segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Gadamer e a amizade

Na tradição hermenêutica gadameriana compreender é também um ato de interpretação. E interpretar implica, necessariamente, em produzir um novo texto. E como todo ato desta natureza, só é possível se consideramos o sujeito em sua historicidade. Em outras palavras, a compreensão é um ato egoísta - compreender é compreender a si mesmo.
Neste sentido, quando dialogamos com uma pessoa, na verdade se trata de dois monólogos. O que o outro entende não é obviamente o que dizemos ou pensamos que dizemos - não é possível, portanto, apreender a intenção daquele que fala. Das palavras do outro, fazemos um texto a partir de nós mesmos. Poderia falar em significante e significado na perspectiva saussureana, mas acho o "egoísmo" gadameriano mais interessante. Quando digo compreendi é porque consegui me projetar naquele emaranhado de palavras.
É por isto que às vezes você escreve ou diz coisas querendo amenizar uma situação ou expressar sentimentos a outrem e este encara como uma agressão ou faz uma leitura da sua fala que te leva a exclamar: meu deus, de onde ele tirou isto?
Perdi uma amizade hoje (talvez nunca a tenha tido) porque não houve diálogo. Quando em dois monólogos você se dispõe a se colocar no lugar do outro.... A antropologia chama a isto de "olhar antropológico" ou simplesmente relativização.
Não existe, portanto, uma interpretação literal, porque as palavras não são literais - não há sentido unívoco ou um texto que não dependa de um contexto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário